Um Outro Olhar - Por Michelle Ferret
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Reconhecer
o vazio. A semelhança. A saudade e a cidade. Tudo isso se misturava
dentro dela enquanto vivia. Mas a realidade é que o pequeno espaço de
vento poderia mudar tudo dentro dela. E não a cidade. Isso era apenas um
detalhe na imensidão que era e ainda é a sua pequena vida. Um cheiro de
mar vinha da cozinha. Era a casa de sua tia. Àquela que a criou
enquanto menina, gostava de rodar léguas para apanhar peixinhos. Nunca
trouxe nenhum. Todos ficavam nadando solitários em sua memória. Quase
sem trégua o horizonte vazava a manhã e deixava nascer mais um pedaço de
dia.
Menina esquisita. Pernas tortas. Pés pálidos e olhos de gente
já velha. Seus cabelos pareciam embolados a um estreito prendedor de
rosas claras. Ela era toda estranha. Nada a fazia ter simetria com
qualquer mulher de qualquer mundo.
E os desejos ambulantes e
latentes de desvendar o tudo, a guardavam da escuridão de ser gente. Ela
não parecia ser gente. Parecia ser qualquer coisa que não cela.
Qualquer coisa que não se prendia nem retorcia miragens. Qualquer parto
difícil de acontecer. Era ela. Aquela pequena porção de estranheza e
solidão que se revelava como qual enquanto dormia. Ou não. Não precisava
nem dormir para deixar revelar o que sentia.
Acendeu a vela e foi olhar a rua.
Tudo aceso. Parecendo dia. Mesmo madrugada. Ela acendia. Gostava de
velar as coisas. De deixar-se velar para que o mundo a visse em
fragmentos iluminados. E nada era preciso. Tudo aos poucos e retalhados.
Era ela.
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