POSTAGEM ESPECIAL
Você desconfia que coisas inúteis sejam mesmo inutéis?
Você consegue ver poesia em pedaços de muros sujos em ruínas?
Você sente uma imensa saudade da sua infância?
Você duvida das ordens em que as coisas estão colocadas?
Então, você não é único!
Conheça agora a desbiografia de "Manoel de Barros"
Uma das mais encantadoras descobertas de 2011, graças a minha professora e escritora Ana Cecília Aragão.
Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
Prefiro as linhas tortas, como Deus. Em menino eu sonhava de ter uma
perna mais curta (Só pra poder andar torto). Eu via o velho farmacêutico
de tarde, a subir a ladeira do beco, torto e deserto… toc ploc toc
ploc. Ele era um destaque.
Se eu tivesse uma perna mais curta, todo mundo haveria de olhar para
mim: lá vai o menino torto subindo a ladeira do beco toc ploc toc ploc.
Eu seria um destaque. A própria sagração do Eu.
Não é por me gavar
mas eu não tenho esplendor.
Sou referente pra ferrugem
mais do que referente pra fulgor.
Trabalho arduamente para fazer o que é desnecessário.
O que presta não tem confirmação,
o que não presta, tem.
Não serei mais um pobre diabo que sofre de nobreza.
Só as coisas rasteiras me celestam.
Eu tenho cacoete pra vadio.
As violentas me imensam.
MANOEL DE BARROS
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