Ele nasceu em Santos(SP) em 1940, e é um dos principais nomes da Direção de Arte no Brasil.
Um cara que faz do seu trabalho verdadeiras "Obras de Artes".
Sua trajetória também parte da história e crescimento do Cinema Nacional.
Filmes como: Pixote, a lei do mais fraco (1980), O Beijo da Mulher-Aranha (1984) de Hector Babenco, Orfeu
(1999), de Carlos Diegues, Lamarca
(1994), de Sérgio Rezende, e Carandiru
(2003), de Hector Babenco, fazem parte de uma lista com mais de quarenta filmes que trazem sua rica e singular
Em 2005, ele também estreou como Diretor no filme Cafundó, Codirigido com Paulo Betti. E em
2001, recebeu o Grande Prêmio Cinema Brasil Melhor Direção de Arte pelo
trabalho em Castelo Rá-Tim-Bum.
É com muito carinho e muita admiração pelo seu trabalho que trago para o SET:
1) ATÉ AOS ANOS 70 NÃO HAVIA A
FUNÇÃO DE DIRETOR DE ARTE NOS FILMES BRASILEIROS E VOCÊ É UM DOS PIONEIROS NESSA
ÁREA. QUARENTA E TRÊS ANOS SE PASSARAM,
MAS AINDA NÃO TEMOS NO BRASIL UMA ESCOLA DE DIREÇÃO DE ARTE. NA SUA OPINIÃO
ISSO É UM DOS PONTOS FRÁGEIS PARA OS QUE JÁ TRABALHAM E PARA OS QUE QUEREM
TRABALHAR NESSA ÁREA?
Realmente existem poucos
cursos dirigidos para especializações nas diversas áreas do áudio visual. Os
cursos de comunicação são bastante genéricos, e eu não conheço nenhum
específico de direção de arte. A maior parte dos profissionais vem da
arquitetura ou de belas artes. E a
formação é bastante precária. Não acho que seja necessário um curso desses em
cada cidade do Brasil. Mas o sistema de ensino podia ser mais flexível,
permitindo que cada aluno fizesse seu próprio currículo, escolhendo as matérias que são necessárias a cada especialidade.
2) REFERÊNCIAS E PESQUISAS SÃO
FUNDAMENTAIS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE UM PROJETO CINEMATOGRÁFICO. ALÉM
DISSO, O QUE MAIS PODE SER FEITO E TRABALHADO NA PRÉ PRODUÇÃO DE UM FILME NA
DIREÇÃO DE ARTE?
A pesquisa quase sempre é
necessária. Lidamos com uma enorme gama de conhecimentos que nem sempre podemos
abranger. Mas a pesquisa é apenas a busca de informações que nos faltem. Como é
uma cadeira de dentista , como era a cama no século XV , etc. . Se bem que não
temos que ser obedientes. Mas é bom conhecer o real para inventar o imaginário.
Já as referências nem sempre são
necessárias . Pra mim elas são boas só como fonte de pesquisa. A criação não
precisa delas. Ao contrário, elas acabam sendo repressoras. Acho que é bom ler
um roteiro, buscar as informações necessárias, ouvir música, andar sem destino,
conversar com o travesseiro, desenhar o que vier a cabeça. A criação não tem um
método. Chega uma hora que é necessária organizar tudo isso, para se comunicar
com as outras áreas que fazem parte de um filme, para chegar a uma linguagem
comum. Se for necessário um método, é nessa fase. Como se comunicar. Alguns
usam referências com esse objetivo. Eu prefiro os meus rabiscos. Pra não ficar
amarrado numa fórmula. Cinema é a arte de seduzir e ser seduzido. Porque no
final é preciso gostar do que se vai fazer.
3 ) QUAIS FILMES NACIONAIS
CONSEGUIRAM LEVAR PARA AS TELAS ESSES CUIDADOS E TRAZER BONS RESULTADOS?
Confesso que só sei ver um
filme como espectador, sem maiores análises. Um filme é o resultado de um
esforço conjunto. Quando começamos a notar a arte, a fotografia, a direção, ou
o elenco, é porque ele não nos "pegou”. Um filme é como um beijo, um soco
ou uma risada. Não dá para analisar . Eu gosto mais da maioria dos filmes que
eu fiz. Não é questão de vaidade. É de envolvimento, de amor.
4) O POVO BRASILEIRO É CONHECIDO
PELA SUA CRIATIVIDADE E NO FILME "CARLOTA JOAQUINA A DIREÇÃO DE ARTE FOI BASTANTE
COMPETENTE E CRIATIVA, LEVANDO-SE EM CONTA AS RESTRIÇÕES DE ORÇAMENTO DA
PRODUÇÃO. ESSE TIPO DE ATITUDE E CORAGEM DEVE SER MAIS
ENCORAJADA PARA NOSSAS PRODUÇÕES?
Carlota Joaquina é um belo
filme. Não sei do orçamento. Mas isso não é uma coisa restritiva em termos de
criação. Ás vezes é até estimulante. Mas pro menores que sejam os recursos um
filme tem um custo mínimo que não é de se jogar fora . Aí entra muito a
intuição do produtor, das intenções de mercado. Fazer Guerra das Estrelas com
baixo orçamento é jogar dinheiro fora. Mas um "Rebobine, por Favor,"
tem seu público e custou infinitamente menos. A Coragem não é a ousadia de
fazer a sala do rei na área de serviço. Não se trata de fingir que o filme é
rico. É apostar que aquele filme pobre pode dar certo.
5) O BRASIL POSSUI UMA
DIVERSIDADE CULTURAL E UMA RICA LITERATURA.
RETRATAR MAIS NOSSAS HISTÓRIAS PODE SER UM DOS CAMINHOS PARA FORTALECER
O NOSSO CINEMA?
Sem dúvida, um dos nossos
pontos fracos tem sido os próprios roteiros . Talvez por andarmos muito na
esteira da moda, dos blockbusters . Uma hora é sexo, depois é violência, ação,
etc. etc. O cinema lida com dinheiro, mercado, exige retorno. Mas os moldes
internacionais nem sempre dão resultados aqui. Não temos tradição de literatura
policial, nem de ficção científica. O
cinema novo investiu na literatura do cangaço, dos engenhos, onde temos nossos
maiores escritores, de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, José Lins do Rego,
Jorge Amado, etc. Esse veio foi um pouco abandonado. E as safras mais recentes
de escritores parecem ter sofrido muito a influência novelesca da TV. Foram
poucos os filmes que investiram no futebol, p.ex., e nem foram bem sucedidos, a
não ser Garrincha Alegria do Povo, de J.P.Andrade. As favelas são mostradas apenas como foco de violência ,
a não ser Orfeu . Na verdade ficamos
muito reféns da cultura globalizada. Mas para atingir o universo, é preciso
começar com a sua casa. pela sua cabeça.
6) COMO UM DIRETOR DE ARTE
CONSEGUE ALIAR SEU INSTINTO INTUITIVO COM O LADO RACIONAL NA CRIAÇÃO DE UM UNIVERSO FÍLMICO?
Esse é o X do problema . O
intuitivo tem que conviver com o racional. Um não pode matar o outro. A criação
é intuitiva, mas a realização é racional.
7) MESMO COM OS AVANÇOS
TECNOLÓGICOS, QUAIS AS MAIORES DIFICULDADES ENCONTRADAS HOJE NO BRASIL PARA
EXERCER A PROFISSÃO DE DIRETOR DE ARTE E COMO PESSOAS QUE TEM INTERESSE DE
TRABALHAR NESSA ÁREA DEVEM BUSCAR MAIS CONHECIMENTOS?
São várias questões aí. O
avanço tecnológico é como o dinheiro. Quanto mais, melhor. Mas não podemos esperar
que eles resolvessem tudo. Pelo contrário , eles facilitam muito a
picaretagem . Fica mais fácil ludibriar
com fogos de artifício e fórmulas pre construídas. Mas certamente é mais
limitado e menos prazeroso. Não acho que ser diretor de arte deva ser o
objetivo na vida . É uma circunstância, cuja realização vai depender muito da
nossa disponibilidade, curiosidade, etc. É claro que temos que estabelecer
alguns objetivos, com a devida flexibilidade para perceber outros caminhos.
Enfim, é preciso exercitar o olhar, a informação, e até a política, que faz parte
de qualquer atividade.
Carandiru - making of - Bastidores
Conheci pessoalmente o Clóvis Bueno em junho/2013, quando tive a oportunidade de participar de uma de suas Oficinas de Direção de Arte, mas já conhecia seu trabalho desde a pré-adolescência na década de 80 com o inesquecível Pixote.
Além do aprendizado durante o curso, vi na sua simplicidade uma maneira rara de fazer do trabalho um ato de entrega e amor ao Cinema.