domingo, 22 de outubro de 2017

Mágoa Infinda


O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!

Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.

Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
 Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme

É essa mágoa que o acompanha ainda!


(Eterna Mágoa) Augusto dos Anjos

domingo, 24 de setembro de 2017

Mares e Desertos de Mim






Vamos falar sério? Quem nunca se viu em uma situação de vulnerabilidade diante de si? É algo mais ou menos assim: Você acorda, toma banho, café, escova os dentes, vai para o trabalho...e tudo é tão mecanicamente natural, que você até acredita ser normal. Porém, certo dia sem perceber, você desacelera, olha para os lados e subitamente sai de cena e passa a observar a si mesmo. Identifica rapidamente um desconhecido ocupando seu lugar na vida. Uma pungente distância separa você e o seu duplicado. Onde foram parar suas hesitações, inquietações, fragilidades e o raio x do seu coração? Nesse momento você torna-se a mais doce isca das emoções soltas, aquelas que voam desajeitadamente fora do círculo e param sem pedir licença diante do seu eu genuíno de fábrica. Esse encontrão te dará dois caminhos: Acreditar que não é tão fácil assim falsificar sua alma e deitar-se na próxima rede com aquele livro...ou fechar todas as entradas da insanidade e seguir sã, porém com remorsos e tristezas pelo maior dos desertos, o de si mesmo.

Suerda Morais


quinta-feira, 15 de junho de 2017

Já bebi xampu Já nadei no Tietê




Já bebi xampu

Já nadei no Tietê





Já tinha escutado qualquer coisa em um ano qualquer...guardei.
Quando vi o clipe, pensei absurdamente em como ainda não havia feito o download, comprado camisetas e decorado as letras. Eles fazem o "MEU TIPO"





domingo, 11 de junho de 2017

Já não consigo partir





Não vou sair e me trair por aí como se fosse uma qualquer de mim. 
Já não consigo partir sem antes acolher a mim. 


Suerda Morais
12/04/2017

Preste contas de si


Esqueça o mundo lá fora. Busque inspiração interna, bloquei todas saídas de você mesmo. Convide para uma dança seus “eu´s”, ofereça um chá, drink, chopp, seja lá o que for. Mas, prosei com seus botões, ouça suas histórias, compreenda e preste contas de si, lave mágoas e depois banhe-se sem qualquer ultraje.


Suerda Morais
06/04/2017

O Alaranjado e a Paz



Quando a tardinha dava seus primeiros sinais de partida, pude sentir o que o intervalo entre luzes é capaz de fazer.
O alaranjado caindo pelos telhados revelava os contrastes das tintas gastas nos muros das casas fechadas. Sacos de carvão empilhados pareciam adormecidos serenos e envoltos a paz, que sorte!
O céu antes azul refletia nas calçadas os tons da noite. Pelo caminho também ouvi pássaros despedindo-se da pouca luz e buscando abrigos. Quando tudo escureceu, o vento trouxe paz e vontade de viver para entender ainda mais sobre luzes, telhados e segredos das tardinhas.



Suerda Morais
02/04/2017

sexta-feira, 14 de abril de 2017

À noite, à escuridão, ao abismo, ao nada!


Era madrugadinha quando ouvi pela 
primeira sua voz e com ela voltei:
À noite, à escuridão, ao abismo, ao nada! 



OS CATIVOS

Encostados às grades da prisão,
Olham o céu os pálidos cativos.
Já com raios oblíquos, fugitivos,
Despede o sol um último clarão.
Entre sombras, ao longe, vagamente,
Morrem as vozes na extensão saudosa.
Cai do espaço, pesada, silenciosa,
A tristeza das cousas, lentamente.
E os cativos suspiram. Bando de aves
Passam velozes, passam apressados,
Como absortos em íntimos cuidados,
Como absortos em pensamentos graves.
E dizem os cativos: Na amplidão
Jamais se extingue a eterna claridade...
A ave tem o vôo e a liberdade...
O homem tem os muros da prisão!
Aonde ides? qual é vossa jornada?
À luz? à aurora? à imensidade? aonde?
— Porém o bando passa e mal responde:
À noite, à escuridão, ao abismo, ao nada! 
— E os cativos suspiram. Surge o vento,
Surge e perpassa esquivo e inquieto,
Como quem traz algum pesar secreto,
Como quem sofre e cala algum tormento...
E dizem os cativos: Que tristezas,
Que segredos antigos, que desditas,
Caminheiro de estradas infinitas,
Te levam a gemer pelas devesas?
Tu que procuras? que visão sagrada
Te acena da soidão onde se esconde?
— Porém o vento passa e só responde:
a noite, a escuridão, o abismo, o nada! 
— e os cativos suspiram novamente.
Como antigos pesares mal extintos,
Como vagos desejos indistintos,
Surgem do escuro os astros, lentamente...
E fitam-se, em silêncio indecifrável,
Contemplam-se de longe, misteriosos,
Como quem tem segredos dolorosos,
Como quem ama e vive inconsolável...
E dizem os cativos: Que problemas
Eternos, primitivos vos atraem?
Que luz fitais no centro d’onde saem
A flux, em jorro, as intuições supremas?
Por que esperais? n’essa amplidão sagrada
Que soluções esplêndidas se escondem?
— Porém os astros tristes só respondem:
a noite, a escuridão, o abismo, o nada! 
— assim a noite passa. Rumorosos
sussurram os pinhais meditativos.
Encostados às grades, os cativos
Olham o céu e choram silenciosos. 


ANTERO DE QUENTAL 
In Sonetos, 1861 

terça-feira, 4 de abril de 2017

Tive outras visões naquela madrugada...







Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta.
Não se via ou ouvia um barulho,
ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia
de braços com maiakoviski – seu criador.
Fotografei a nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.

Manoel de Barros

domingo, 19 de março de 2017

Lembrem que me ouviu dizer...



A felicidade mora aqui!




Meu colo alimenta a vocês e a mim
Deixa eu mimar vocês, adorar vocês
Agora, só agora
Por que um dia eu sei
Vou ter que deixá-los ir





Mas sou flor que não se cheira...

Exibida no finalzinho da década de 70, a novela Pai Herói tem uma trilha musical incrível e imperdível! "Pode Esperar" samba assinado por Roberto Correa /Sylvio Son e interpretado maravilhosamente por Alcione, ganhou há poucos meses lugar na minha vitrola





Sou mulher que encara um desacato

Se eu não devolver no ato...






Lá se foram trinta e oito anos...
Mas a força e coragem da Ana Preta (Glória Menezes)
Ressurgem a cada dia na vida real.
Salve Janete Clair que soube como poucos adicionar camadas
de força, verdade e ternura aos personagens femininos da dramaturgia brasileira.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Sobre balas, jujubas, livros, filmes, meias e fotos







Quem disse que o tempo não passou? Sim. Ele passou. Pelo retrovisor vejo em detalhes o tempo vivido.Ter e manter no presente a memória do passado, não é simplesmente sentir nostalgia ou necessidade da felicidade de “outrora”. Balas, meias lavadas no varal, livros sobre móveis pelos recantos da casa, idas a locadoras de filmes (ainda existiam), entram sem pedir licença e celebram o milagre da renovação do tempo. Se no ano 2000, 2017 parecia distante, agora ajusto o retrovisor no decorrer da nova estrada. Desconfiada da felicidade que nos distancia dos risos soltos do passado, sigo compondo uma nova colcha com nossos retalhos. Balas, jujubas, livros, filmes, meias e fotos circulam livremente sem qualquer estado de tempo. 



Te amo muito e "ETERNAMENTE" Juninho

CORUJAS E PITANGAS