Ela nasceu em São Paulo e por ser pioneira no trabalho de pós produção sonora no Brasil, tornou-se uma referência no assunto. Começou sua carreira como assistente de edição nos
Estados Unidos na década de 80. Lá
trabalhou em filmes como A cor do dinheiro (1985), de Martin Scorsese, e Short
cuts - Cenas da vida (1993), de Robert Altman. Voltou para o Brasil na década de 90, e desde então vem trabalhando na
edição de som de vários longas brasileiros, entre eles"O Homem do
Futuro", Mulher Invisível" de Cláudio Torres, "Lope", Casa
de Areia" e "Eu Tu Eles" de Andrucha Waddington, "Febre do
Rato", "Baixio das Bestas" e "Amarelo Manga" de Cláudio
Assis", "Bruna Surfistinha", e mais recente, "Faroeste Caboclo" . É com um imenso entusiasmo que trago para o SET:
1- Você começou sua carreira como assistente de som nos EUA
na década de 80. Na sua opinião, além da mudança do analógico para o digital,
quais principais mudanças ocorridas no Cinema nesse setor nos últimos vinte
anos?
Muita coisa mudou. Tecnicamente, como você apontou, a
mudança do analógico para o digital foi importantíssima! Junto a isso, com o
desenvolvimento dos "workstations" , principalmente do ProTools, com computadores cada vez mais potentes, com
poder de armazenamento nunca antes imaginados, o conceito da edição de som
mudou. Antes só era possível imaginar o que iria acontecer na mixagem e tentar
se preparar para isso. Hoje, temos o desenho de som praticamente pronto na
edição e a mixagem ficou um espaço para se "apurar" a sonoridade que
vem da montagem.
2- O Cinema Brasileiro por muito tempo recebeu críticas pela
falta de qualidade sonora em seus filmes. Hoje, em termos tecnológicos e
criativos, podemos dizer que os nossos filmes estão no mesmo nível das produções
internacionais?
As produções brasileiras estão mais sofisticadas. No
entanto, há essa preocupação na comparação com produções internacionais,
principalmente as americanas.
Mas é uma comparação infeliz.
Há muitas diferenças entre a "indústria" americana e nosso mercado, onde ainda nossa indústria é
ainda um projeto.
Podemos nos comparar a produção argentina, chilena, latino
americana, da Asia?
De qualquer modo, não é uma preocupação que tenho.
Quando tenho que ir mixar fora do Brasil , gosto de saber
com quem vou trabalhar, qual a estética do mixador e quais equipamentos serão
utilizados, que em geral é muito parecido com o que usamos aqui.
O que mais gosto é poder trabalhar com pessoas que têm
outras experiências, outra forma de resolver problemas, outro olhar sobre o som
do filme.
Quando vou assistir um filme, não fico pensando se é
americano ou belga, chinês, brasileiro!
Bem… pensando bem, para filme brasileiro eu tenho outra
percepção!! Em geral sabemos das histórias do filme, quem fez, como foi feito,
etc. Raramente assisto tão isenta. Mas deveria!
3 - Você poderia citar os principais filmes brasileiros que
nas últimas décadas investiram na edição de som e mixagem para ampliar e
espacializar suas imagens?
Praticamente todos! Não necessariamente investiram em termos
de orçamento, grana. Mas incentivaram criativamente nosso trabalho dentro dos
projetos.
4 - No já premiado Documentário "Francisco
Brennand" lançado em março, no qual você fez a Edição de Som, o diretor
pediu que fosse captado o som direto pela riqueza da ambientação. Além disso,
alguns diretores não gostam de
dublagens e buscam cada vez mais uma estética mais naturalista possível para
seus filmes. Fato marcante no filme "O SOM AO REDOR", isso exige uma
preocupação cada vez maior com a captação do som direto. Manter a verdade do lugar tem sido um desafio na
hora da pós produção sonora?
Considero que o som direto é parte estrutural do som de um
filme. Todo o desenho que será construído sairá dessa base sonora. Obviamente que quanto melhor gravado, melhor será o
resultado final.
A dublagem é independente disso. As vezes é necessário
dublar por outras questões, inclusive técnicas, que não comprometem a
sonoridade do filme.
A estética naturalista é a mais aceita atualmente. Mas já
fizemos vários filmes com estética nada naturalista, e ainda assim, o som
direto continua a ser fundamental.
Para manter a verdade do lugar é importantíssimo ter
elementos naturais da locação. Mas esses sons muito provavelmente estarão com
outros que não necessariamente serão desse lugar, para conseguirmos criar uma
nova verdade!
Miriam Bidermam/Oficina no CINE-PE
Miriam Bidermam/Oficina no CINE-PE
5 - Como você vê o crescimento do setor audiovisual em
Pernambuco? você acredita que isso é resultado das políticas públicas adotadas,
resultando por incentivar seus Roteiristas, Diretores, Técnicos e a própria comunidade a produzir seus filmes?
Acredito que o desenvolvimento do setor audiovisual
pernambucano vem de muito tempo! Com
mais aporte de verbas, resultou em mais condições de trabalho. Assisto
com muito interesse o que tem sido feito lá. Mas sei que não é recente. Há
muito tempo Pernambuco mostra uma produção diversificada tecnica e criativa.
6 - Sabemos que o Cinema possui uma curva sonora específica,
porém alguns cuidados com a reverberação não vem sendo respeitados em algumas salas de Cinema. Como isso
pode comprometer os trabalhos da edição e mixagem de som de um filme?
Compromete porque o que é projetado não corresponde ao
trabalho que foi feito na edição e mixagem.
7 - Qual recado você deixa para os estudantes do curso de
Cinema, e para todas as pessoas que já trabalham ou desejam ampliar seus
conhecimentos sobre Edição de Som?
Tentar ouvir o que o filme pede!
Acreditar que o som pode ajudar na dramaturgia do filme.
Trabalhar nas camadas sonoras subjetivamente.
Dar "cor" para as cenas, sem ser maior que a cena.
Dar "peso" aos personagens, sem que esses sons
destoem ou pulem da tela.
O filme Faroeste Caboclo estreia hoje nos Cinemas,
Uma belíssima oportunidade para você entender ainda mais o poder do ÁUDIO no Visual
Conheci Miriam Bidermam numa oficina de pós produção sonora em Recife em abril desse ano. Durante três dias sua didática, relatos de experiências vividas nos filmes em que trabalhou e sua sincera disposição ao compartilhar conhecimentos, me fizeram ficar ainda mais entusiasmada com o mágico mundo sonoro no universo do Cinema. Ela é uma daquelas raras pessoas que traz no olhar alegria, seriedade e amor pelo faz.
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Um comentário:
Inteligente e esclarecedora entrevista.
Parabéns!
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