terça-feira, 4 de dezembro de 2012

UM SET PARA: NELSON MARQUES


foto - PEDRO BALDUÍNO


Ele é Biólogo, Professor Doutor (aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), e Professor Colaborador Voluntário da UFRN no Museu Câmara Cascudo. 

Chegou em Natal em janeiro de 2000 e é apaixonado pelo cinema desde a adolescência. 
Sua cultura cinematográfica vem de assistir  filmes e mais filmes...
Foi aqui em Natal que após se aposentar que começou  a se dedicar mais ao cinema, onde já escreveu diversos artigos sobre ficção científica, ajudou a fundar o nosso Cineclube, e a criar o "Goiamum 
Audiovisual" principal evento da cinematografia do nosso estado que começa essa semana.
Nelson Marques é hoje uma das pessoas mais importantes e  influentes dessa área aqui no estado.
Foi com muito carinho e reconhecimento pelo seu  trabalho que o SET foi especialmente preparado:







1)     EM 2012 O  GOIAMUM CHEGA AO SEU SEXTO ANO, E TORNOU-SE O PRINCIPAL  EVENTO  DO AUDIOVISUAL DO NOSSO ESTADO, COMO E PORQUE SURGIU ESSE FESTIVAL?
 
O Goiamum surgiu como uma necessidade de se pensar criticamente o audiovisual potiguar. Foi criado em 2007 através da iniciativa da Zoon Fotografia e do Cineclube Natal,mais a parceria convidada da ABD&C (através de seu presidente à época, Carlos Tourinho) e de alguns produtores e diretores (dentre eles, Geraldo Cavalcanti e Buca Dantas, que atenderam o chamado), mais um convite feito ao FestNatal, através de seu organizador, Valério Andrade, para que organizássemos uma nova forma de festival. A essência do festival, diferente das outras tentativas ou ações que existiam é que ele se fundamentaria num tripé: formação (oficinas, palestras, debates), exibição (de filmes não só potiguares)e discussões propositivas com os profissionais da área. Infelizmente, o festival já na realização em seu primeiro ano só contou com os trabalhos organizativos efetivos do Cineclube Natal e da Zoon Fotografia. Desde então, mesmo que outras entidades ou pessoas tenham sido convidadas para participarem da organização em cada um dos anos, desde 2008, até hoje, 2012, nunca se integraram efetivamente na sua organização.Quando muito participam de debates, exibições e discussões propositivas.


2) OFICINAS, EXIBIÇÃO DE TRABALHOS E DISCUSSÃO PROPOSITIVA FORMAM O TRIPÉ DO GOIAMUM. QUANDO COMEÇARAM A SURGIR E QUAIS FORAM OS PRIMEIROS RESULTADOS?


Surgiram desde a sua ideia de criação até a realização do primeiro Goiamum Audiovisual, em 2007. Desde então, sempre foi o tripé que é mantida na sua organização e realização. A cada ano, há um tema que "organiza' o festival, ou seja procura-se integrar as atividades em torno desse tema. Neste ano de 2012, o 6o. Goiamum Audiovisual tem como tema "No Movimento das Marés", oferecendo cerca de 10 mostras,nacionais e internacionais, além do 3o. Curta Goiamum, que é a única parte competitiva do festival, realizado a partir de 2010, 4 oficinas profissionalizantes, 7 palestras e 2 encontros e reuniões com os profissionais do audiovisual potiguar e, neste ano, também da Paraíba. Os resultados tem se acumulado ao longo dos anos: recolha dos filmes potiguares, através do Projeto Desentoca, constituindo ano a ano um acervo inestimável da produção audiovisual potiguar, documentos encaminhados aos gestores públicos como resultado das discussões e de demandas específicas, relações profissionais importantes com gestores públicos locais, estaduais e do governo federal,através da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.

3)  NO ANO DE 2009, O MINISTÉRIO DA CULTURA OFERECEU ESPONTANEAMENTE  APOIO AO  GOIAMUM, QUE  POSSIBILITOU A INSERÇÃO DO FESTIVAL NO CENÁRIO DO AUDIOVISUAL NACIONAL. QUAIS FORAM OS PONTOS MAIS RELEVANTES PARA O RECONHECIMENTO DA IMPORTÂNCIA DESSE PROJETO?

A proposta inovadora de formação, exibição e discussões com a classe diretamente interessada, aliada à seriedade encaminhada desde o princípio, além do arrojo e quebra da timidez dos produtores locais de se "jogar no mundo" e manter contato de maneira ampla com profissionais de outros estados e no âmbito do governo federal que nesse período, 2007-2010, investiu muito na área do audiovisual como ação cultural e educativa. 

4)  EM 2010 NENHUM TRABALHO LOCAL REALIZADO FOI SELECIONADO PELA COMISSÃO JULGADORA DO GOIAMUM PARA REPRESENTAR O RN NA MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS DE ATIBAIA EM SÃO PAULO. NA ÉPOCA  VOCÊS  RECEBERAM CRÍTICAS POR ESSE POSICIONAMENTO, PORÉM  ESSA ATITUDE PROVOCOU MUDANÇAS IMPORTANTES NA QUALIDADE DOS TRABALHOS POSTERIORES. COMO VOCÊS CONSEGUIRAM ENFRENTAR ESSES QUESTIONAMENTOS E MANTER A PROPOSTA DO PROJETO?


A decisão de não selecionar nenhum produto potiguar para a 1a. Mostra Competitiva de Curtas, já de início com caráter nacional, não foi deliberada e nem fácil. Só se realizou quando tivemos quase 140 filmes inscritos, de todo o Brasil, e se pode comparar os n osso filmes com o estágio de produção de outros estados. De novo, mesmo com a celeuma provocada no meio audiovisual potiguar e das muitas discussões havidas e pela firmeza e transparência no processo (o júri se manteve coeso e firme em sua decisão, apesar da pressões)fomos respeitados nessa decisão e entendidos como um processo necessário de crescimento. Tanto que já na sua 2a. edição, em 2011, novos filmes potiguares foram inscritos, julgados como adequados, comparativamente com a produção nacional e, mais importante, selecionados para a apreciação final e mais, aprovados!     


5)  QUAIS OS MAIORES DESAFIOS PARA PROMOVER O FESTIVAL E MANTÊ-LO NO CALENDÁRIO?

 
O maior desafio é, sem nenhuma dúvida, a falta de uma política pública de valorização da cultura e do audiovisual em particular. Essa é uma característica permanente de nosso meio, tanto em nível municipal, quanto estadual. Mesmo a criação dos editais como processo seletivo, saindo do esquema anterior de compadrio vigente durante muitos anos, não resolveu a situação já que os gestores públicos não honram os compromissos assumidos, ou seja, ganha o edital, mas não leva, porque o dinheiro não é liberado. Questão associada a essa é a falta de cultura para apoiar projetos culturais por parte de nosso empresariado (falando de forma geral). Poucos empresários enquanto pessoas esclarecidas e menos ainda as empresas não sabem, ou não querem saber, que cultura é um bom produto para colocar a sua marca. Isso significa que até o ano passado tínhamos uma situação esdrúxula em que projetos  aprovados nas leis de incentivo fiscal, tanto a municipal, quanto a estadual, acabam caducando por dificuldades de captação nas empresas, nos dois anos de validade do projeto (o Goiamum  também passou por essa situação kafkiana, ou seja, ganhou, mas não levou, em 2010, pois não conseguiu fazer a captação, mesmo com todo o seu reconhecimento nacional, mas não foi suficiente para o nosso meio empresarial). 
      

6)O RN AINDA NÃO CONSEGUIU FORMAR SEU POLO AUDIOVISUAL.  NA SUA OPINIÃO, QUE NOS FALTA E QUAIS OS PRINCIPAIS EXEMPLOS QUE  DEVEMOS COPIAR DOS NOSSOS ESTADOS VIZINHOS COMO PERNAMBUCO E PARAÍBA, QUE  VEM FORTALECENDO SUAS POLÍTICAS DENTRO DESSA ÁREA?


Creio que a principal é a inexistência de políticas públicas direcionadas à cultura e no caso mais específico, ao meio audiovisual. Quando existe, a prática demonstra que falta seriedade, firmeza e transparência nas ações. Outra questão que vejo como muito séria é a falta de tradição histórica e de massa crítica relacionada à própria classe de produtores culturais e audiovisuais. Falta também consciência política para criar a força da ação coletiva como a única efetivamente que poderia criar mudanças significativas. Tudo isso junto, significa que ficamos andando em círculos, sem força política para criar demandas e cobranças para o gestor público, que por sua vez, não tem políticas definidas e ninguém para cobrar de forma real e efetiva. No momento que tivermos essa consciência política e crítica ficaremos par a par com nosso vizinhos, como Pernambuco, Paraíba e Ceará, que estão anos-luz à nossa frente. Não por obra do espírito santo, mas pelas histórias de vida e de cobranças dos profissionais de lá. 


7) O GOAIMUM 2012 SERÁ REALIZADO COM O APOIO DO BNB, COMO ISSO FOI POSSÍVEL E O QUE PÚBLICO E REALIZADORES PODEM ESPERAR?


Creio que seja uma continuidade do processo de exposição, de transparência e de seriedade contínuas da organização do Goiamum Audiovisual que acaba chamando a atenção. Já tivemos parcerias com a Fundação Capitania das Artes, da Prefeitura do Natal, com a Fundação José Augusto, do Governo do Estado, com a Secretaria Extraordinária de Cultura, do mesmo Governo, com o Ministério da Cultura, através da SAV, com o Conselho Nacional de Cineclubes, com o SEBRAE, com o SESI, sempre sendo respeitado pelo produto oferecido e pelos resultados mostrados. Neste ano tivemos o reconhecimento do comitê julgador do Programa de Cultura do BNB - Banco do Nordeste. Estamos continuamente ampliando o nosso círculo de influências pelo produto que temos a oferecer que é um festival de cinema de qualidade e respeito, que é o Goiamum Audiovisual.





Cruzei diversas vezes com o Nelson em reuniões, mostras e eventos. E sempre tive muito respeito  pelas suas atitudes e posicionamentos. Conversar com ele foi  ter ainda mais certeza da sua seriedade, lucidez e comprometimento com o  desenvolvimento cultural da nossa cidade.

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