quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Mão e a Luva - Os movimentos do coração não estão nas mãos da vontade...

Não li Machado de Assis por ordem dos professores, nem como uma obrigação para aprender literatura.
Meu encanto se deu só aos  vinte  e poucos anos, numa  rua deserta e era um domingo.
Vi um livro de capa dura dourada pendurado por uma corda em frente a uma banca de jornal. 
A promoção da editora Globo chamou minha atenção. O ano era 1997.



"Há no amor um gérmen de ódio que pode vir a desenvolver-se depois. Talvez chegues a
acusá-la de te não querer; nesse dia reflete que os movimentos do coração não estão nas mãos da vontade. Ela não tem culpa se outro lhe despertou o amor.
- Ah! Incumbiu-te da defesa!
Luís Alves sorriu; ele contava com a recriminação.
- Não, não me incumbiu da defesa, disse ele; sou eu que a tomo por minhas mãos. Que
defendo eu aqui senão a natureza, a razão, a lógica dos sentimentos, dura e inflexível como toda a outra lógica? Há no fundo das tuas palavras um sentimento de egoísmo..."


 Esqueci  o que acontecia ao meu redor durante os dois dias em que devorei o livro. 
E eu voltei lá na banca muitas outras vezes!




Um pouco da história do livro

 

A mão e a luva é um dos romances de Machado de Assis, publicado em 1874.
Incrível a diferença no rítimo e narrativa entre este que é o segundo livro de Machado e "Memórias póstumas...". A Mão e a Luva é perfeitamente sintonizado com o Romantismo entretanto é possível perceber entre a estrutura clássica do romance, as características que farão de Machado nosso verdadeiro bruxo do Cosme Velho! A conversa com o leitor e o sarcasmo mostram-se, ainda que timidamente, como em:
Estevão, vendo-se abandonado e rejeitado começa a se iludir pensando que tudo não passa de um teste do ser amado: "A imaginação de Estêvão desceu por este declívio de floridas conjecturas, e Luís Alves entendeu que era de bom aviso não espantar-lhe os cavalos. Ela foi, foi, foi por ali abaixo, rédea frouxa e riso nos lábios. Boa viagem!" "A careta que fez ao sair ninguém lha pôde ver, e não se perdeu nada." "as aparências de um sacrifício valem mais, muita vez, do que o próprio sacrifício"
A obra tem também um quê de pessimismo, ou ao menos, uma desilusão com o caráter humano. O enredo trata de uma garota determinada e segura de si, de origem humilde e simples que se vê a "fortuna" dar-lhe oportunidade de ascender socialmente e busca manter-se assim após (ou através de) o casamento. È prentendida por três: O sincero e romântico Estevão, que carrega em si todos os esteriótipos dos heróis Românticos, sendo tratado pelo narrador como apaixonado e sincero, porém patético. O previsível, vazio e medíocre Jorge, muito próximo à menina porém sem brilhantismo. E o astuto e ambicioso Luís Alves (único com nome e sobrenome!), homem sóbrio determinado, com aspirações políticas e sociais fortíssimas. Frente a isso, a união entre a menina Guiomar e Luís Alves, é tão certeira como o ajuste entre a Mão e a Luva!







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