De cabaça na mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava dos
arenzés de alcova.
Caminhando um passo brando pelas roças ia nas vingas nem
tocando;
reesmagava na areia os próprios passos, tinha o rio com
margens engolidas por tabocas,
feito mais de abandono que de estrada e muito mais de
estrada que de rio
onde em cacimba e lodo se assentava água salobre rasa.
A moça ali perdia-se, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava
por longo capinzal, cantarolando:
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
velando vales, curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.
Moldava-se em sabão, estremecida,
Moldava-se em sabão, estremecida,
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
Secava-se no vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
Depois, voltava lentamente os rastos
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
Então era a moça regressava
tendo nos olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural.
2 comentários:
Belas fotos para um poema mamediano extraordinário.
Postar um comentário