quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Secava-se ao vento...



De cabaça na mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava dos
 arenzés de alcova.







Caminhando um passo brando pelas roças ia nas vingas nem tocando;

reesmagava na areia os próprios passos, tinha o rio com margens engolidas por tabocas,

feito mais de abandono que de estrada e muito mais de estrada que de rio

onde em cacimba e lodo se assentava água salobre rasa.




Salitroso era o também caminho da cacimba



e mais: o salitroso era deserto.






A moça ali perdia-se, afundava-se

enchendo o vasilhame, aventurava

por longo capinzal, cantarolando:

desfibrava os cabelos, a rodilha

e seus vestidos, presos nos tapumes

velando vales, curvas e ravinas

(a rosa de seu ventre, sóis no busto)

libertas nesse banho vesperal.
Moldava-se em sabão, estremecida,

cada vez que dos ombros escorrendo

o frio d'água era carícia antiga.

Secava-se no vento, recolhia

só noite e essências, mansa carregando-as

na morna geografia de seu corpo.






Depois, voltava lentamente os rastos

em deriva à cacimba, se encontrava

nas águas: infinita, liquefeita.

Então era a moça regressava

tendo nos olhos cânticos e aromas

apreendidos no entardecer rural.

                                                                                                                                



Poema Banho(Rural)

Zila Mamede

 Fotos do Rio Potengi  -  Suerda Morais




2 comentários:

Paulo Jorge Dumaresq disse...

Belas fotos para um poema mamediano extraordinário.

Paulo Jorge Dumaresq disse...
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CORUJAS E PITANGAS