Em época de descrença generalizada, quando sujeito e
realidade parecem determinados apenas por uma inevitável instabilidade, a
imagem oferece a possibilidade de algum apoio. Na fotografia, por exemplo, por
seu vínculo direto com a realidade, talvez fosse possível confiar. A fotografia
parece redefinir a forma de o homem se relacionar com a realidade, segundo
Susan Sontag. Entretanto, não podemos esquecer que o cinema, com as técnicas de
montagem, e também a fotografia podem ser conduzidos de forma a criarem uma
nova realidade que algumas vezes poderia parecer até mais verdadeira do que a
própria realidade. A imagem que marca os poemas de Mário Peixoto seria esta
imagem fotográfica, característica da modernidade, que altera a relação do
sujeito com a realidade e, ao parecer mais fiel à realidade objetiva, em sua
representação, oferece-nos uma nova realidade, muitas vezes distorcida. Não há
ingenuidade na obra de Mário Peixoto - por mais que sua linguagem poética em
alguns momentos pudesse até nos fazer seguir esta pista enganosa - e as ilusões
criadas pela linguagem serão sempre desmascaradas, mas nunca de forma clara ou
óbvia. Será justamente ao percorrermos caminhos intrincados, de imagens
múltiplas e infinitas, que iremos nos deparar com uma poética incomum, que
prima por ser sutil e delicada, apesar de abordar questões complexas e
dolorosas que dizem respeito a uma época marcada por imensas contradições - a
poética de Mário Peixoto ultrapassa seus limites e atinge o universal.
fonte www.revista.agulha.nom.br
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