segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Onde a Terra Acaba





Em época de descrença generalizada, quando sujeito e realidade parecem determinados apenas por uma inevitável instabilidade, a imagem oferece a possibilidade de algum apoio. Na fotografia, por exemplo, por seu vínculo direto com a realidade, talvez fosse possível confiar. A fotografia parece redefinir a forma de o homem se relacionar com a realidade, segundo Susan Sontag. Entretanto, não podemos esquecer que o cinema, com as técnicas de montagem, e também a fotografia podem ser conduzidos de forma a criarem uma nova realidade que algumas vezes poderia parecer até mais verdadeira do que a própria realidade. A imagem que marca os poemas de Mário Peixoto seria esta imagem fotográfica, característica da modernidade, que altera a relação do sujeito com a realidade e, ao parecer mais fiel à realidade objetiva, em sua representação, oferece-nos uma nova realidade, muitas vezes distorcida. Não há ingenuidade na obra de Mário Peixoto - por mais que sua linguagem poética em alguns momentos pudesse até nos fazer seguir esta pista enganosa - e as ilusões criadas pela linguagem serão sempre desmascaradas, mas nunca de forma clara ou óbvia. Será justamente ao percorrermos caminhos intrincados, de imagens múltiplas e infinitas, que iremos nos deparar com uma poética incomum, que prima por ser sutil e delicada, apesar de abordar questões complexas e dolorosas que dizem respeito a uma época marcada por imensas contradições - a poética de Mário Peixoto ultrapassa seus limites e atinge o universal. 
fonte www.revista.agulha.nom.br




Nenhum comentário:

CORUJAS E PITANGAS