— Mãe, se prepare que nós vamos ali...

Ao decidir criar uma conta no Instagram para Thiago, foi porque eu sentia a necessidade de manter viva a memória da vida do meu filho e compartilhá-la com seus familiares, amigos e colegas. O objetivo é mantê-lo vivo em nossos corações. Mas a vida nos prega muitas peças. Fui descobrindo, na luta contra a dor do desaparecimento físico da sua vida, que tocar nas memórias pode doer ainda mais. Descobri, então, que tinha que lidar com a dor sem mexer nelas, e assim meus pensamentos fugiam das memórias, porque meu cérebro tentava me proteger da dor, algo próximo do que a ciência denomina de amnésia dissociativa.

Nessa batalha de fuga e luta, quero hoje reviver uma história que vivemos juntos em 13 de abril de 2019.Thiago sempre me fazia surpresas, e eu era sua aliada quando a surpresa era para outro alguém. Eu comecei a gostar da banda Los Hermanos por algo que eles tinham bem além do hit “Ana Júlia”, embora tenha sentido algo diferente na faixa 8, “Primavera”, do primeiro CD, de 1999. Mas foi no álbum “Ventura”, lançado em 2003, que virei totalmente fã dos meninos — ou melhor, dos Los Hermanos. Sendo assim, passei a ouvir insistentemente as faixas “Último Romance”, “Deixa o Verão”, “Sentimental”, “A outra” e, por sorte dessas coisas do destino, fiquei sabendo que seu cunhado Iury (na época) também curtia muito a banda.

Isso reforçou nele a vontade de também descobrir que som era aquele que mexia tanto com um fervoroso bando de fãs. Ganhei de um amigo o CD “O Bloco Do Eu Sozinho” e pirei. Quando Thiago descobriu que a banda estava fazendo uma turnê pelo Brasil para dar um tempo na carreira e que passaria por JP (João Pessoa), comprou os ingressos em segredo e um dia antes, disse:

— Mãe, se prepare que nós vamos ali...

Viajamos sozinhos pela primeira vez na vida(Juninho não quis ir), dividimos o mesmo quarto de hotel, saímos pelas ruas e, pela noite, fomos ao show. Ali, naquela quadra, eu parecia uma estranha no ninho de centenas de jovens. Ele segurou minha mão e, juntos, cantamos os sucessos, tomamos cerveja e encontramos com Iury. No dia seguinte ele me levou para almoçar com meu doce amigo Miguel Trindade (que mora em JP). 

Não é fácil tocar e me transportar até essas memórias. Guardo o copo, o cheiro dos nossos perfumes, as músicas que cantarolamos juntos na viagem e sei que “a estrada é, sim, além do que se vê”. Meu amor, obrigada por todo o amor e por tudo que vivemos juntos. Vou fechar meus olhos e imaginar que juntinhos cantamos:

“Deixa ser como será

Quando a gente se encontrar

No pé, o céu de um parque a nos testemunhar

Deixa ser como será

Eu vou sem me preocupar

E crer pra ver o quanto eu posso adivinhar”





 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

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