quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O tempo seca a saudade







O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras. 
Deixa tudo solto, leve
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias. 

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque, 
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.
 
 


(Cecília Meireles)

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CORUJAS E PITANGAS