sexta-feira, 14 de março de 2014

Dia da Poesia - Labirinto do Tempo








Quando os primeiros raios surgiram, ela não pulou da cama como de costume.  
Sem qualquer vigor e  com  o olhar perdido 
entrou sem o próprio consentimento no labirinto do tempo . 
Com os  olhos bem  fechados  viu nitidamente  um  baú empoeirado  vestido de passado, lá  estavam: 
Medos sentidos, fragilidades adquiridas, tolices cometidas, vitórias extraviadas e  franqueados risos...
Surpreso, o falso intrépido coração tocou  sem temor esses pequenos pedaços,
  e brincou feito criança com os tais temidos pontiagudos brinquedos. 
Com eles percorreu descalça uma  trilha com delicadas pedrinhas cortantes.
Abriu os olhos  e sentindo compaixão dos ingênuos soluços,
correu e foi rapidamente tratar de reinventar brincadeiras e 
viver, viver, viver!



Suerda Morais

Dia da Poesia - Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim



Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco.

Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.

Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.

Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou




Dia da Poesia - Água benta e iodo curam até asa ferida




Causa e Defeito

Constato contrafeito, que você passou;
Mesmo confuso sem decifrar teus enigmas,
 Jurei,  juro, juras,
Quebrando meus sete mil paradigmas.

E, ganhei como prêmio um adeus,
Que me fizeram enxugar duas ou três lágrimas,
Que de tão ácidas, derrubariam (talvez):
 A Pirâmide de Gizé, o Maracanã, o  Muro de Berlim, e o Coliseu!

Mas, não te preocupes,
Nem  queiras voltar atrás.

Pequenas perdas e danos,
Em minha cabeça,  trovoadas.
Sonho, sono, sonho,  perdido,
Em meu coração cheio de pontes, azia, febre,  mágoa e temporal.

Entretanto, o carrossel mesmo vazio,
Continua  girando , girando,  neste árido mundaréu.

Baby, play the game,
Não se aflija,
Água benta e iodo curam  até asa ferida,

Quanto a mim, sem ti,
Tudo bem, nenhuma mudança.
Continuo como antes:
Tolo, impávido pragmático,
Perfeitamente anormal.




Por Francisco Carlos de Lima

CORUJAS E PITANGAS