segunda-feira, 29 de julho de 2013

MEU FILME INESQUECÍVEL POR: PAULO DUMARESK

"Era nos filmes que eu encontrava as respostas. O cinema me ensinava tudo "
                                                                                                     Giuseppe Tornatore




                                                     http://facebook.com/paulojorge.dumaresq


“Eu já gostava de cinema italiano – não com o fervor quase doentio de hoje em dia – e conhecia filmes de seu quinteto mágico (Rossellini, Fellini, De Sica, Antonioni e Pasolini) quando assisti a Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, Itália/França, 1988) no extinto cine Rio Verde. Foi quando chorei pela primeira vez numa sala de cinema. Até então, nenhum filme havia me arrebatado com aquela magnitude que só a obra-prima de Giuseppe Tornatore conseguiu. Naquela noite em 1989, achei escondido no acanhado cine Rio Verde o tipo de cinema que procurara inconscientemente pela vida inteira: o cinema poesia. Nem piegas, nem pedante. Contudo, absolutamente humano e profundo. 




A história do menino Totó (Salvatore Cascio) e do projecionista Alfredo (Philippe Noiret) me encantou de tal modo que neguei todo o cinema feito anteriormente.Exagero, claro.
A sensibilidade e a mão certeira de Tornatore  um cineasta até então desconhecido no Brasil me fizeram rever todos os conceitos que eu tinha da Sétima Arte. A cada sequência eu afundava na poltrona do Rio Verde, com os olhos marejados, sem acreditar no que estava vendo. O estupendo roteiro de Tornatore não me fazia desviar o olhar da tela. A trilha sonora do mestre Ennio Morricone dava os climas e uma dimensão olímpica ao filme. Lembrei das sessões dominicais nos cine Rex e Nordeste, com a minha mãe, os amigos e as namoradas. A sequência em que são mostradas as cenas dos beijos censuradas pelo pároco da cidade foi o tiro de misericórdia na minha vida de cinéfilo errante. Terminada a sessão, saí trôpego da sala e caminhei até minha casa na rua Santo Antônio pensando em tudo que assistira há pouco. Só um filme havia mexido comigo daquela maneira. Foi Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, Reino Unido/EUA, 1971). Recordo que saí enfurecido do cine Rio Grande, amaldiçoando o sistema e coisa e tal. Com Cinema Paradiso, ocorreu o contrário. Parecia que eu tinha sido hipnotizado. Ou abduzido, talvez. Sei lá. Depois fui procurar os outros filmes de Tornatore, mas nenhum tem a mesma dimensão de Cinema Paradiso. Busquei, ainda, no concorrente Ettore Scola, que abordou o mesmo tema em Splendor (Splendor, Itália/França, 1989) um ano depois, ou seja, a decadência de um cinema numa pequena cidade do interior da Itália, mas o gênio não conseguiu a proeza de Tornatore. Óbvio que o conjunto da obra de Scola é superior ao de Tornatore. Isto não vem ao caso. É outro papo. Com o passar do tempo, o longa não perdeu seu encanto. Ainda o considero o meu filme de cabeceira, mesmo depois de ter revisto diversas vezes e assistido a trocentos outros celuloides. Paixão não se explica. Cinema Paradiso é o meu filme inesquecível e insubstituível. A caixa de lenços Kleenex também.”   



quinta-feira, 25 de julho de 2013

MEU FILME INESQUECÍVEL POR: KAIONY VENÂNCIO

"Cinema não é para entreter, é para fazer sonhar"
                                            Win Wenders




Um dos meus filmes preferidos e inesquecíveis é LA BAMBA. Mudou minha vida, me cativou quanto artista e ser humano. Me despertou a lutar pelos meus sonhos, mesmo criança, mesmo diante das adversidades.
A cinebiografia do cantor americano de origem mexicana, Ritchie Valens, que morreu aos 17 anos de idade no trágico acidente aéreo juntamente com outros dois ícones do Rock da época, Buddy Holly e The Big Bopper, no ano de 1959.
Filme lançado no ano de 1987 nos Estados Unidos e estrelado por Lou Diamond Phillips, dirigido e roteirizado por Luiz Valdez.
Tenho uma forte influência do Rock’N’Roll, desde que estava na barriga de minha mãe.
Era o ano de 1979 e meu pai curtia The Fevers, Renato e Seus Blue Caps, Jerry Adriani, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, enfim, a Jovem Guarda ainda respirava forte em meu pai.
Lembro de assistir La Bamba na ‘Sessão da Tarde’ (TV Globo), junto com meu irmão. Não tenho certeza se foi no ano de 1988 ou 1989, porque o filme estreou na TV em ‘Tela Quente’ em 1988.


Eu e meu irmão sempre respiramos música na nossa casa. Crescendo dentro de igreja evangélica, tínhamos a oportunidade de cantar ou tocar violão. La Bamba foi o impulso que faltava para investirmos no nosso sonho de fazermos sucesso musical.
Eu cantava e meu irmão, tocava guitarra. Tivemos duas bandas de Rock Gospel e daí migramos para outros estilos e outros filmes sobre o bom e velho Rock’N’Roll.
Hoje, eu indico La Bamba para todos os cinéfilos, músicos, artistas e qualquer pessoa que tem um sonho e acredita nele.  Ótima direção, roteiro, elenco e trilha sonora arrepiante.
Obrigado, Suerda, pelo espaço e convite pra fazer parte do hall da fama do ‘Estação Olhar Meu’.

Viva o Cinema, Viva o Rock’N’Roll!







quinta-feira, 11 de julho de 2013

UM SET PARA: CLÓVIS BUENO

Ele nasceu em Santos(SP) em 1940, e é um dos principais nomes da Direção de Arte no Brasil. 
Um cara que faz do seu trabalho verdadeiras "Obras de Artes".
Sua trajetória   também parte da história e crescimento do Cinema Nacional.
Filmes como: Pixote, a lei do mais fraco (1980), O Beijo da Mulher-Aranha (1984) de Hector Babenco, Orfeu (1999), de Carlos Diegues, Lamarca (1994), de Sérgio Rezende, e Carandiru (2003), de Hector Babenco, fazem parte de uma lista com  mais de quarenta filmes que trazem sua rica e singular 
Em 2005, ele também estreou como Diretor no filme Cafundó, Codirigido com Paulo Betti. E em 2001, recebeu o Grande Prêmio Cinema Brasil Melhor Direção de Arte pelo trabalho em Castelo Rá-Tim-Bum.
É com muito carinho e muita admiração pelo seu trabalho que trago para o SET:


                                                                                                                         






1) ATÉ AOS ANOS 70 NÃO HAVIA A FUNÇÃO DE DIRETOR DE ARTE NOS FILMES BRASILEIROS E VOCÊ É UM DOS PIONEIROS NESSA ÁREA. QUARENTA E TRÊS ANOS SE PASSARAM, MAS AINDA NÃO TEMOS NO BRASIL UMA ESCOLA DE DIREÇÃO DE ARTE. NA SUA OPINIÃO ISSO É UM DOS PONTOS FRÁGEIS PARA OS QUE JÁ TRABALHAM E PARA OS QUE QUEREM TRABALHAR NESSA ÁREA?  

 Realmente existem poucos cursos dirigidos para especializações nas diversas áreas do áudio visual. Os cursos de comunicação são bastante genéricos, e eu não conheço nenhum específico de direção de arte. A maior parte dos profissionais vem da arquitetura ou de belas artes.  E a formação é bastante precária. Não acho que seja necessário um curso desses em cada cidade do Brasil. Mas o sistema de ensino podia ser mais flexível, permitindo que cada aluno fizesse seu próprio currículo, escolhendo as matérias que são necessárias a cada especialidade.


2) REFERÊNCIAS E PESQUISAS SÃO FUNDAMENTAIS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE UM PROJETO CINEMATOGRÁFICO. ALÉM DISSO, O QUE MAIS PODE SER FEITO E TRABALHADO NA PRÉ PRODUÇÃO DE UM FILME NA DIREÇÃO DE ARTE?

 A pesquisa quase sempre é necessária. Lidamos com uma enorme gama de conhecimentos que nem sempre podemos abranger. Mas a pesquisa é apenas a busca de informações que nos faltem. Como é uma cadeira de dentista , como era a cama no século XV , etc. . Se bem que não temos que ser obedientes. Mas é bom conhecer o real para inventar o imaginário. Já as referências  nem sempre são necessárias . Pra mim elas são boas só como fonte de pesquisa. A criação não precisa delas. Ao contrário, elas acabam sendo repressoras. Acho que é bom ler um roteiro, buscar as informações necessárias, ouvir música, andar sem destino, conversar com o travesseiro, desenhar o que vier a cabeça. A criação não tem um método. Chega uma hora que é necessária organizar tudo isso, para se comunicar com as outras áreas que fazem parte de um filme, para chegar a uma linguagem comum. Se for necessário um método, é nessa fase. Como se comunicar. Alguns usam referências com esse objetivo. Eu prefiro os meus rabiscos. Pra não ficar amarrado numa fórmula. Cinema é a arte de seduzir e ser seduzido. Porque no final é preciso gostar do que se vai fazer.


 3 ) QUAIS FILMES NACIONAIS CONSEGUIRAM LEVAR PARA AS TELAS ESSES CUIDADOS E TRAZER BONS RESULTADOS?

 Confesso que só sei ver um filme como espectador, sem maiores análises. Um filme é o resultado de um esforço conjunto. Quando começamos a notar a arte, a fotografia, a direção, ou o elenco, é porque ele não nos "pegou”. Um filme é como um beijo, um soco ou uma risada. Não dá para analisar . Eu gosto mais da maioria dos filmes que eu fiz. Não é questão de vaidade. É de envolvimento, de amor.


4) O POVO BRASILEIRO É CONHECIDO PELA SUA CRIATIVIDADE E NO FILME "CARLOTA JOAQUINA A DIREÇÃO DE ARTE FOI BASTANTE COMPETENTE E CRIATIVA, LEVANDO-SE EM CONTA AS RESTRIÇÕES DE ORÇAMENTO DA PRODUÇÃO. ESSE TIPO DE ATITUDE E CORAGEM DEVE SER MAIS ENCORAJADA PARA NOSSAS PRODUÇÕES?

Carlota Joaquina é um belo filme. Não sei do orçamento. Mas isso não é uma coisa restritiva em termos de criação. Ás vezes é até estimulante. Mas pro menores que sejam os recursos um filme tem um custo mínimo que não é de se jogar fora . Aí entra muito a intuição do produtor, das intenções de mercado. Fazer Guerra das Estrelas com baixo orçamento é jogar dinheiro fora. Mas um "Rebobine, por Favor," tem seu público e custou infinitamente menos. A Coragem não é a ousadia de fazer a sala do rei na área de serviço. Não se trata de fingir que o filme é rico. É apostar que aquele filme pobre pode dar certo.

5) O BRASIL POSSUI UMA DIVERSIDADE CULTURAL E UMA RICA LITERATURA.  RETRATAR MAIS NOSSAS HISTÓRIAS PODE SER UM DOS CAMINHOS PARA FORTALECER O NOSSO CINEMA?


Sem dúvida, um dos nossos pontos fracos tem sido os próprios roteiros . Talvez por andarmos muito na esteira da moda, dos blockbusters . Uma hora é sexo, depois é violência, ação, etc. etc. O cinema lida com dinheiro, mercado, exige retorno. Mas os moldes internacionais nem sempre dão resultados aqui. Não temos tradição de literatura policial, nem de ficção científica.  O cinema novo investiu na literatura do cangaço, dos engenhos, onde temos nossos maiores escritores, de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Jorge Amado, etc. Esse veio foi um pouco abandonado. E as safras mais recentes de escritores parecem ter sofrido muito a influência novelesca da TV. Foram poucos os filmes que investiram no futebol, p.ex., e nem foram bem sucedidos, a não ser Garrincha Alegria do Povo, de J.P.Andrade. As favelas  são mostradas apenas como foco de violência , a não ser  Orfeu . Na verdade ficamos muito reféns da cultura globalizada. Mas para atingir o universo, é preciso começar com a sua casa. pela sua cabeça. 


6) COMO UM DIRETOR DE ARTE CONSEGUE ALIAR SEU INSTINTO INTUITIVO COM O LADO RACIONAL NA CRIAÇÃO DE UM UNIVERSO FÍLMICO?

 Esse é o X do problema . O intuitivo tem que conviver com o racional. Um não pode matar o outro. A criação é intuitiva, mas a realização é racional.


7) MESMO COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS, QUAIS AS MAIORES DIFICULDADES ENCONTRADAS HOJE NO BRASIL PARA EXERCER A PROFISSÃO DE DIRETOR DE ARTE E COMO PESSOAS QUE TEM INTERESSE DE TRABALHAR NESSA ÁREA DEVEM BUSCAR MAIS CONHECIMENTOS?

 São várias questões aí. O avanço tecnológico é como o dinheiro. Quanto mais, melhor. Mas não podemos esperar que eles resolvessem tudo. Pelo contrário , eles facilitam muito a picaretagem  . Fica mais fácil ludibriar com fogos de artifício e fórmulas pre construídas. Mas certamente é mais limitado e menos prazeroso. Não acho que ser diretor de arte deva ser o objetivo na vida . É uma circunstância, cuja realização vai depender muito da nossa disponibilidade, curiosidade, etc. É claro que temos que estabelecer alguns objetivos, com a devida flexibilidade para perceber outros caminhos. Enfim, é preciso exercitar o olhar, a informação, e até a política, que faz parte de qualquer atividade.


                         

Carandiru - making of - Bastidores






Conheci pessoalmente o Clóvis Bueno em junho/2013, quando tive a oportunidade de participar de uma de suas Oficinas de Direção de Arte, mas já conhecia seu trabalho desde a pré-adolescência na década de 80 com o inesquecível Pixote.
Além do aprendizado durante o curso, vi na sua simplicidade uma maneira rara de fazer do trabalho um ato de entrega e amor ao Cinema.



CORUJAS E PITANGAS