sexta-feira, 29 de março de 2013

Fui provocada






A sessão classificada como “Cult”  começou com a sala 5 quase lotada. Minha cabeça que já habitava o território das manhas do imaginário, contava cada segundo pra começar o filme que vem recebendo diversas críticas positivas e um lugar na lista do New York Times. Mas, minha ansiedade era também para ter mais uma vez a certeza do "Novo Cinema" que nasce no Brasil, mas precisamente em Pernambuco. Logo nos primeiros minutos entrei pela contramão da evasão e refúgio. Penetrei  numa primorosa ficcional realidade. Locações, fotografia, figurino, maquiagem, objetos de cena, e uma natural interpretação dos atores(profissionais ou não) iam enriquecendo e tornando convincente a narrativa, sem dúvida guiada por um Roteiro bem construído e amarrado. A quase ausência de trilha sonora enaltece  um belíssimo SOM DIRETO que ocupa  seu lugar de honra na telona. Porém, a entrada surpreendente da belíssima “Charles, Anjo 45” me fez  sentir um esplâncnico esquecimento do mundo.  Penetrei abismos pessoais e sociais, abri e fechei portas. Vi através de janelas, grades e portões. Senti inquietações. Fui provocada pelos seus silêncios.Opressão, desigualdades e o coronelismo ressurgem da Casa Grande e Senzala sob uma nova e aguçada visão.“O SOM AO REDOR” não nos redime das ilusões cotidianas, ele nos coloca diante delas de maneira consciente e sensível. 







segunda-feira, 25 de março de 2013

Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações





“…Eu adoro todas as coisas 
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite. 
Tenho pela vida um interesse ávido Que busca compreendê-la sentindo-a muito. 
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo, 
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas, 
Para aumentar com isso a minha personalidade. 
Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio 
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
 Como uma criança a quem a ama beija. 
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras, 
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo 
Do que as que vi ou verei. 
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações. 
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos. 
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca. …"

                                                                                                                Fernando Pessoa



quarta-feira, 20 de março de 2013

Nosso apartamento, um pedaço de "SAIGON"


Hoje, quando retornei da minha corridinha matinal liguei o rádio AM como de costume na CBN e fiquei sabendo da morte do cantor Emílio Santiago. 
Apesar de ter folheado capas de seus discos e escutado sua música na adolescência, 
só fui contagiada pelo seu romantismo muito tempo depois...


Emílio começou sua carreira no  Rio de Janeiro nos anos 70,
na Faculdade de Direito quando alguns colegas sem que ele soubesse inscreveram  seu nome nos Festivais Estudantis


Sua primeira aparição na TV foi no Programa de calouros do Flávio Cavalcanti, 
onde participava ao lado do compositor Adelino Moreira e do cantor Lupicínio Rodrigues de um dos quadros do programa.



Ele disse certo dia que nunca se cansava de cantar "SAIGON",
Música que entrou na minha playlist em 2010.  E que é sem dúvida a trilha sonora de muitos namoros, amores, romances passageiros ou não.


Tantas palavras
Meias palavras
Nosso apartamento
Um pedaço de Saigon
Me disse adeus
No espelho com batom

Vai minha estrela
Iluminando
Toda esta cidade
Como um céu
De luz neon

Seu brilho silencia
Todo som
Às vezes
Você anda por aí
Brinca de se entregar
Sonha pra não dormir

E quase sempre
Eu penso em te deixar
E é só você chegar
Pr'eu esquecer de mim

Anoiteceu!
Olho pro céu
E vejo como é bom
Ver as estrelas
Na escuridão
Espero você voltar
Pra Saigon




Seu último disco foi lançado em 2011.
"Só Danço Samba" celebra seus 40 anos de carreira e é também uma linda homenagem ao músico cearense Ed Lincoln. Rei dos Bailes no Rio de Janeiro nos anos 60, 
com quem o Emílio trabalhou como crooner





Descobri que ouvir o Emílio em estado puro de uma paixão, 
 transformará sempre um pequeno apartamento
 em um grande e maravilhoso pedaço de "SAIGON" 


Salve!




domingo, 17 de março de 2013

Venha ver a madrugada e o sol que vem que uma noite não é nada, meu bem


Para apimentar o domingo trago  "Num Corpo Só" (Cruz/Picolé) que faz parte do terceiro álbum "Samba Meu" da cantora Maria Rita



Lançado em 2007, ele fez por completo minha cabeça em 2008




Faixas como : "Maltratar Não é Direito" ,"Tá Perdoado", "Mente ao Meu Coração"  e  belíssima "O Que é o Amor " podem simplesmente fazer você acreditar que o novo Samba merece sim toda nossa paixão!




Eu tentei, mas não deu pra ficar sem você
Enjoei de tentar
Me cansei de querer encontrar
Um amor pra assumir teu lugar

Eu tentei mas não deu pra ficar sem você
Enjoei de esperar
Me cansei de querer encontrar
Um amor pra assumir teu lugar

É muito pouco,
Venha alegrar o meu mundo que anda vazio, vazio
Me deixa louca
É só beijar tua boca que eu me arrepio,
Arrepio, arrepio

E o pior
É que você não sabe que eu
Sempre te amei
Pra falar a verdade eu também
Nem sei
Quantas vezes eu sonhei juntar
Teu corpo, meu corpo
Num corpo só

Vem!
Se tiver acompanhado, esquece e vem
Se tiver hora marcada, esquece e vem
Vem!
Venha ver a madrugada e o sol que vem
Que uma noite não é nada, meu bem

Eu tentei, mas não deu pra ficar sem você
Enjoei de esperar
Me cansei de querer encontrar
Um amor pra assumir seu lugar

É muito pouco,
Venha alegrar o meu mundo que anda vazio, vazio
Me deixa louca
É só beijar tua boca que eu me arrepio,
Arrepio, arrepio

E o pior
É que você não sabe que eu
Sempre te amei
Pra falar a verdade eu também
Nem sei
Quantas vezes eu sonhei juntar
Teu corpo, meu corpo
Num corpo só

Vem!
Se tiver acompanhado, esquece e vem
Se tiver hora marcada, esquece e vem
Vem!
Venha ver a madrugada e o sol que vem
Que uma noite não é nada, meu bem

Vem!
Se tiver acompanhado, esquece e vem
Se tiver hora marcada, esquece e vem
Vem!
Vamos ver a madrugada e o sol que vem
Que uma noite não é nada, meu bem


Preste atenção no belíssimo clipe:



quinta-feira, 14 de março de 2013

NO DIA POESIA - UM SET PARA ELIZABETH BIGLIONE


Ela nasceu no DIA NACIONAL DA POESIAé bisneta de índios, cresceu à margem do Rio  Potengi solta pelo mangue catando caranguejo.Na escola sempre era a escolhida para declamar poesias. Aos 16 anos foi eleita Miss do Rio Grande do Norte e virou a menina dos olhos do folclorista e escritor Câmara Cascudo. Com beleza, desenvoltura e uma linda voz,  marcou a história da comunicação nos telejornais e rádio potiguar. 
Com tapete vermelho, o SET foi preparado para :

                                       



1) ANTES DE SER MISS RN, LOCUTORA, REPÓRTER... LÁ NA ADOLESCÊNCIA VOCÊ TEVE UMA EXPERIÊNCIA DE TEATRO NA ESCOLA.  FOI  ALI O COMEÇO DE TUDO?

Sim. Durante o colegial escrevi e encenei várias peças de teatro, onde relatava experiências pessoais e de colegas de turma. As peças eram encenadas tanto no colégio como também em outros locais como pastorais a convite de Padre Thiago (Casarão) para servir de exemplo para outros jovens... saudades dessa época!!! E sim foi ali que tudo começou... O amor pela arte da comunicação.





2) VOCÊ FREQUENTOU A CASA DO  ESCRITOR CÂMARA CASCUDO  E MANTEVE COM ELE UMA RELAÇÃO DE AMIZADE,  COMO FOI QUE ISSO ACONTECEU?

Fui eleita Miss RN em 81 e fui convidada por sua filha (coordenadora do concurso) para me hospedar em sua casa que hoje é patrimônio histórico no bairro da ribeira. Foi então que tive a satisfação de conhecer Luís da Câmara Cascudo, o Mestre! Sempre muito educado e atencioso ele leu vários poemas para mim, como também  fez de improviso outro que guardo tão somente sua imagem quando recitou, pois não foi escrito no papel e sim no livro das boas lembranças da minha vida.


3) VOCÊ FOI UMA DAS PIONEIRAS NA APRESENTAÇÃO DO TELEJORNAL LOCAL.  SEM O TELEPROMPTER COMO VOCÊ FAZIA PARA MEMORIZAR TANTAS INFORMAÇÕES? 

Um desafio! Mas sempre tive muita facilidade para decorar textos... tenho memória fotográfica...o que facilitou e muito minhas apresentações. Da mesma forma que também guardo lembranças maravilhosas da equipe que trabalhei na época e que tinha um empenho e harmonia o que com certeza ajudava e muito o meu desempenho.

4) ASSIM COMO NA TV, VOCÊ FEZ HISTÓRIA NO RÁDIO COM PROGRAMAS DIÁRIOS INESQUECÍVEIS, COMO "MARMITÃO" E  "TEMPERO REGGAE". O RÁDIO FOI OU AINDA É SUA MAIOR PAIXÃO?

O rádio me ajudou muito a fazer tevê. Tive o privilegio de viver e usufruir disso na FM Tropical durante cerca de 23 anos, o que naturalmente me favorece até hoje no desempenho da função que tenho. Sempre gostei muito de música e sinto muitas saudades do rádio, dos ouvintes... E em especial desses programas. Sempre me imaginei fazendo rádio bem velhinha mais enfim... faço tevê nesse teatro da vida!!!


5) UMA DAS SUAS CARACTERÍSTICAS SEJA NO RÁDIO OU TV É UMA EMPATIA INSTANTÂNEA SEJA COM O TELESPECTADOR OU OUVINTE. VOCÊ ACHA QUE ISSO NASCEU COM VC  OU FOI UM APRENDIZADO NO DECORRER DA VIDA?

Acredito que ou você tem ou não tem. Nasci assim. Sou verdadeira em tudo que faço identifico com o que está sendo retratado naquele momento quer seja no rádio ou TV. Vivo a emoção junto com o telespectador ou ouvinte... daí a harmonia e aceitação do publico. Acredito nisso.





6) VOCÊ CASOU COM O GUITARRISTA ARGENTINO E APAIXONADAMENTE NATURALIZADO MAIS QUE BRASILEIRO VICTOR BIGLIONE QUE TAMBÉM COMPÕEM TRILHAS SONORAS PARA CINEMA E ISSO TEM TE APROXIMADO MUITO DA SÉTIMA ARTE A PONTO DE VOCÊ JÁ TER RECEBIDO CONVITE PRA FAZER DUBLAGENS. ISSO SIGNIFICA QUE DEPOIS DA TV E  RÁDIO PODEMOS IMAGINAR QUE O SEU TRABALHO TAMBÉM CHEGARÁ  NAS TELONAS?


No que depender de meu desempenho e dedicação sim. Já estou articulada para fazer cursos que me levem a bom desempenho em mais esse desafio que me deixa ansiosa para fazer os primeiros trabalhos.


7) VOCÊ AGORA VIVE NA PONTE AÉREA RIO DE JANEIRO-NATAL-RIO DE JANEIRO. O QUE  NO RIO  TE  FAZ SENTIR FALTA DE NATAL  E  EM NATAL O QUE TE FAZ SENTIR  FALTA DO RIO?

Em Natal não tem o meu amor (rsrsr) e no Rio não tem a família que amo...
Porém a distância não pode vencer o amor, pois como já bem escreveu  Clarisce Lispector:

"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata."



A música "SOCORRO" sempre era uma das mais pedidas e tocadas em seu programa!






Conheci pessoalmente Elizabeth no ano de 2003. Antes disso, participava do "MARMITÃO" um dos seus programas de rádio que ia ao ar na hora do almoço (extinta FM Tropical) através do envio de  poesias e pequenos textos que escrevia. Tímida, enviava tudo com o  pseudônimo da "Anne Frank". E sem me conhecer ela sempre escolhia esses poemas para declamar na hora do suschi,  momento poético e mágico do programa. Passados dez anos mantemos uma forte ligação de carinho e amizade.




segunda-feira, 11 de março de 2013

Pra que mensagens e telegramas se você chega e some

Do fundo do baú de volta para minha play list!





Ouvi notícias de muito longe batendo na minha porta
Eu vi os garfos, eu vi as facas em cima da mesa posta.
Pra que mensagens e telegramas se você; chega e some
Tenho dinheiro e CPF, mas não me lembro o meu nome

Não há; mais festa nem carnaval
Acho que eu fui enganado
Me diga as horas eu vou embora
Hoje eu tô atrasado

Pra que escolas e faculdades não há nada pra aprender
Eu já não vejo, eu já; não penso, já não consigo escrever
Sou faixa preta, toco guitarra, um dia vou popular de asa
Durmo de dia, trabalho à noite não sei se volto pra casa

Olho pro trânsito, olho o sinal, tá tudo engarrafado,
Vídeo cassete, computadores e homens codificados
Tem uma loira que tá a fim, a ruiva diz que me ama,
A negra quer, eu já não sei, quem é que eu levo pra cama

Tô abafado, me dá licença vê se sai da minha frente
Tenho miopia sou hipotenso, meu pé tá sempre dormente
Amsterdã via Paris acho que é nesse que eu vou
Mudei o corte do meu cabelo já nem sei como eu sou


domingo, 10 de março de 2013

O amor não tem pressa ele pode esperar em silêncio




Faço parte da legião feminina que adora o Chico Buarque, ponto.
Mas confesso apaixonadamente que  meu estado foi totalmente alterado quando ele lançou o box "série", que faz um magnífico passeio por toda sua obra.



Em  maio de 2010 devorei cada dvd de domingo a domingo,  esquecendo sem culpa a vida que lá fora corria. Sem qualquer pressa fiquei sozinha com ele  passeando pelas lindas ruas parisienses...
Uma verdadeira viagem pelos seus sentimentos, inspirações, alegrias, romances, bastidores, e é claro o Cinema!!



Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você




sexta-feira, 8 de março de 2013

Ela se vestiu e se olhou sem luxo mas se perfumou


DIA INTERNACIONAL DA MULHER



Ela disse adeus, e chorou,
já sem nenhum sinal de amor.
Ela se vestiu, e se olhou;
sem luxo, mas se perfumou.
Lágrimas por ninguém,
só porque, é triste o fim.
Outro amor se acabou.

Ele quis lhe pedir pra ficar;
de nada ia adiantar.
Quis lhe prometer melhorar,
e quem iria acreditar?
Ela não precisa mais de você,
sempre o último a saber.

Ela disse adeus.

Disse adeus, e chorou,
Já sem nenhum sinal de amor
Ela se vestiu e se olhou
Sem luxo mas se perfumou.
Lágrimas por ninguém
Só porque é triste o fim!Outro amor se acabou...

Ele quis lhe pedir pra ficar;
de nada ia adiantar.
Quis lhe prometer melhorar,
e quem iria acreditar?
Ela não precisa mais de você,
sempre o último a saber.




quinta-feira, 7 de março de 2013

Violeta foi Para o Céu










Cinebiografias são filmes difíceis, que exigem por demais de seus atores principais, podendo estes tanto condenar um bom projeto ao fracasso ou redimir uma produção medíocre da ruína com seus desempenhos. A situação se complica conforme a complexidade do biografado.
No caso deste “Violeta Foi Para o Céu”, temos a chilena Violeta Parra, cantora, artista plástica, poetisa, patriota, comunista, mãe e uma mulher de paixões tão intensas que acabou se perdendo em meio a elas. Retratá-la nas telas seria um desafio para qualquer atriz.
Para a sorte do diretor Andrés Wood (o mesmo do ótimo “Machuca”), ele escalou uma atriz que estava à altura do trabalho que lhe fora apresentado. Se torna quase impossível imaginar esta fita sem a presença de Francisca Gavilán, sendo ela tão essencial para o filme como a própria obra de Parra.
Afinal, Gavilán não apenas convence fisicamente em seu papel (a semelhança entre ela e a verdadeira Violeta é assombrosa), como também abraça toda a gama de emoções conflitantes que a fizeram tão genial e provavelmente a tornaram uma figura tão atraente do ponto de vista dramático para Wood e seu colaborador recorrente, o escritor Eliseo Altunaga.
O roteiro de Altunaga, por meio de uma narrativa não-linear, nos revela aos poucos o que tornou a alma de Violeta tão sofrida quanto genial. Ancorada por uma entrevista a uma televisão do Chile, essa versão ficcional da artista leva o público desde sua infância complicada, ao lado do pai e da irmã, a perda de uma filha, o desgaste em seus relacionamentos e sua luta para manter o folclore a e cultura tradicional chilena viva, bem como pelo bem-estar social de seu povo.
O amor de Violeta pelas artes é a característica-chave para entendê-la. Sua dedicação às artes plásticas e, principalmente, à música é tocante, bem como a verdadeira jornada que empreende para salvar aquilo que ela vê como a verdadeira alma de seu povo. O que alguns enxergam como meras distrações, formas, palavras e melodias, ela vê como aquilo que define o ser humano.
Em meio a isso tudo, a protagonista surge vagando em uma névoa interminável, em um terrível presságio de seu fim trágico. A melancolia, traço tão importante da obra de Parra, é mostrada por Francisca Gavilán como a única companhia perpétua de sua personagem, ressaltando ainda mais sua solidão.
Sempre com um semblante cansado, mesmo nos momentos de felicidade e riso, Violeta parece nunca relaxar completamente, carregando sempre consigo o peso de um mundo inteiro. A fotografia do longa parece refletir isso, raramente a tirando das sombras, como se essas trevas representassem justamente o fardo que ela carrega.
A edição do filme é magnífica, com alguns pontos da projeção merecendo especial destaque.  Lançando mão do recurso da montagem dialética, acompanhamos a morte da pequena filha de Violeta e sua interpretação de “En Los Jardines Humanos” em uma apresentação na União Soviética. O mesmo recurso é utilizado em uma sequência posterior que mostra a protagonista cantando “Gracias a La Vida” para plateias absolutamente distintas e preparando aquele que seria seu empreendimento mais ambicioso. Em ambos os momentos, o resultado é de tirar o fôlego.
Nesse sentido, as músicas compostas pela homenageada dão o tom perfeito para o filme, mostrando a competência de Andrés Wood em capturar o espírito desta em película. É uma pena que, assim como outras fabulosas artistas como a sul-africana Ingrid Jonker, Violeta Parra tenha partido do mundo de maneira tão abrupta. No entanto, medir sua contribuição artística para a humanidade seria difícil de colocar em palavras até mesmo para uma poetisa do calibre dela.
Graças à vida, que me deu tanto

Me deu o riso e o pranto
Assim eu diferencio a felicidade do sofrimento
Os dois materiais que formam meu canto
E o seu canto é o mesmo que o meu
E o canto de todos é o meu próprio canto



Trecho traduzido de “Gracias a La Vida”, canção composta por Violeta Parra e que chegou a ser interpretada por Elis Regina.
Esse filme fez parte da programação do 22º Cine Ceará, em junho de 2012.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.


Volver a Los 17


É uma das suas mais lindas canções!!!






De volta ao 17
depois de viver um século
é como decifrar sinais
sem ser sábio competente
volver a ser de repente
tão frágil como um segundo,
volver a sentir profundo
como uma criança diante de Deus,
é assim que eu me sinto
fecundo neste momento.

É entrelaçados, enredando,
como a hera na parede,
e está brotando, brotando,
como musguito em pedra.
Ai se se se

Meu passo para trás
ao avançar o seu,
o arco de alianças
penetrou meu ninho,
com todas as suas cores
andou pelas minhas veias
e mesmo cadeias rígidos
com que até ele destino
é como um diamante fino
Alumbres que a minha alma serena.

O que pode o sentimento
não foi capaz de saber,
nem mais leve proceder
nem pensar mais amplo,
tudo muda tempo
qual mago condescendente
nos afasta docemente
de rancor e violência,
só o amor com a ciência
nos faz tão inocentes.

O amor está girando
Pureza do original,
até que o animal feroz
sussurra seu doce trill
paradas para peregrinos,
liberta prisioneiros
amor com suas dedicatórias
ele retorna a criança de idade
e carinho a única má
torna-se puro e sincero.

Ampla na janela
aberto como que por magia,
amor entrou com seu manto
como uma manhã quente
ao som de seu alvo bela
Jasmine trouxe,
que voar serafim
céu colocar brincos
e os meus anos em 17
fez o querubim.




CORUJAS E PITANGAS